segunda-feira, 8 de junho de 2009

Poetas em língua portuguesa - Viriato da Cruz - Angola

Às amigas do Blog, o poema de que falei. Bj, Margareth

NAMORO

Poema de VIRIATO DA CRUZ ( Angola 1928-1973)

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
E com letra bonita eu disse que ela tinha
Um sorrir luminoso tão quente e gaiato
Como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.
Sua pele macia-era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
Sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
Tão rijo e tão doce-como o maboque...
Seus seios, laranjas – laranjas do Loje
Seus dentes...-marfim...
Mandei-lhe essa carta
E ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
Que o amigo maninho tipografou:
“Por ti sofre o meu coração”
Num canto – SIM – noutro canto – NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
Pedindo-lhe rogando de joelhos no chão
Pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigênia,
Me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não

Levei à avó Chica, quimbanda de fama,
A areia de marca que o seu pé deixou
Para que fizesse um feitiço forte e seguro
Que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
Ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
Paguei-lhe doces na calçada da Missão,
Ficamos num banco do largo da Estátua,
Afaguei-lhe as mãos...
Falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbado, sujo e descalço,
Como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
“- Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?”
E perdido me deram no morro da Samba.

Pra me distrair
Levaram-me ao baile do só Januário
Mas ela lá estava num canto a rir
Contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário
Tocaram uma rumba – dancei com ela
E num passo maluco voamos na sala
Qual uma estrela riscando o céu!
E a malte gritou: “Aí, Benjamim!”
Olhei-a nos olhos – sorriu para mim
Pedi-lhe um beijo – e ela disse que sim.


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